Go ahead, punk. Make my day.

Archive for Agosto, 2012

Crítica: O Espetacular Homem-Aranha

amazingspiderman_posterO grande problema de O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, EUA, 2012) é que suas qualidades vão sendo perdidas por entre os vários pequenos furos que o roteiro tem. E olha que por conta do currículo de James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves, roteiristas dessa nova empreitada do Cabeça-de-Teia, a expectativa era o oposto do resultado final. Eles escreveram, respectivamente, Zodíaco, Homem-Aranha 2 e Harry Potter.

Não há um grande problema no longa, só que é difícil se manter na trama quando a história tem uma adolescente no Ensino Médio como chefe de estagiários de uma grande corporação como a Oscorp. Ou quando a história quer que a plateia simplesmente aceite que o protagonista adolescente Peter Parker resolva um algoritmo complexo, o qual foi um mistério durante anos até para doutores em genética.

A intenção desse recomeço da história do Aranha nos cinemas era até boa, tentando ser original e se afastando completamente dos longas anteriores de Sam Raimi. Por isso, Peter não é um daqueles nerds clássicos, como foi (o ótimo) Tobey Maguire, e como motivação, ele agora quer descobrir o que houve com seus pais (você sabe, para dar um toque dramático).

Pena que entre as prioridades da produção não está uma coisa chamada coerência. Tanto que não é bom que haja qualquer expectativa de que existam respostas (síndrome de Prometheus), a ideia aqui é ser uma vertigem de ação. Se por um lado, o Homem-Aranha dessa vez é mais ágil que sua primeira versão cinematográfica, sua obsessão por caçar o assassino do Tio Ben, a certa altura é esquecida, mostrando bem que a sugestão de profundidade aos personagens já basta, pois a maior parte do tempo está reservada para o corre-corre.

spiderman-pic

Se a ideia era criar um filme um pouco mais realista ao colocar as teias disparadas pelo herói por meio de um mecanismo nos pulsos, faltou criar uma justificativa plausível para tal. Mais uma vez o roteiro força a barra ao introduzir o material por meio de uma narração em off de um anúncio do material, quase perdido em meio aos testes de Parker com a teia. Mais: alguém aí chegou a pensar como o jovem tem acesso à teia em tamanhas quantidades? Você pode até argumentar que O Espetacular Homem-Aranha quis se aproximar dos quadrinhos originais, então que Stan Lee tenha dado uma desculpa muito boa para isso, pois o filme não.

Aliás, o próprio Lee ganha uma divertida ponta dentro daquilo que o longa faz de melhor, a ação desenfreada. Contudo até mesmo o ponto positivo do longa fica aquém de suas propostas, afinal, ver Homem-Aranha voando entre os prédios novaiorquinos em 3D seria sensacional, caso o diretor Marc Webb não tivesse a infeliz ideia de filmar com pequena profundidade de campo (o que desfoca o segundo plano do quadro e “descola” o personagem em primeiro plano da cena). E mais: a fantástica cena criada num plano subjetivo vista num dos primeiros trailers do filme terminou picotada no corte final da produção.

É por essas e outras que qualidades se perdem, a exemplo da boa atuação de Andrew Garfield, que consegue captar bem os trejeitos de um adolescente (repare nos pulinhos de empolgação depois de uma conversa promissora com Gwen Stacy). Afinal, ver a mobilização social para que o Aranha consiga se balançar por entre guindastes alinhados é tão improvável, que é preciso engolir um policial fechando o trânsito à frente do herói pouco depois dos homens-da-lei estarem caçando o mascarado como a um bandido.

Nota: 5

spiderman-pic2


100 Maiores Gargalhadas Maníacas do Cinema

Eles riem, nós rimos.

As do Gary Oldman são as melhores. A partir de 3min e 3s: Amor à Queima Roupa, O Profissional, O Quinto Elemento, Hannibal e Drácula. Só faltou deixar as gargalhadas dos vilões de Austin Powers até o momento em que eles se cansam de rir maleficamente e debandam.

Clique para lista completa.

Dica de Daniel Marques Dias


Ha alguns anos… (7)

A mais divertida das formações da Távola Redonda

python rail

Integrantes do Monty Python durante as filmagens de Em Busca do Cálice Sagrado (1975)


Resumo (23 jul a 12 ago)

bang_bang_clubRepórteres de Guerra* (The Bang Bang Club, 2010). De Steven Silver

Um filme baseado em fatos reais, mas com a particularidade de mostrar fatos que já foram registrados por meio das lentes de outros profissionais da imagem: os fotógrafos do chamado Bang Bang Club. Esse grupo formado em meio aos conflitos no fim do Apartheid, ainda na primeira metade da década de 1990, tinha como missão buscar os flagrantes mais crus dos conflitos nos quais estavam para depois venderem as fotos para publicações mundo afora. As imagens pesadas do grupo renderam dois prêmios Pulitzer a dois de seus integrantes, uma discussão sobre o papel jornalístico versus o lado humano daqueles homens e duas mortes. Vindo do mundo dos documentários, não é à toa que o diretor Steven Silver tenha se interessado pelo projeto. Um boa escolha, já que ele consegue criar um ambiente realista e fazer com que suas imagens desemboquem nas fotos mais famosas do grupo. O caminho tomado pelo roteiro (também de Silver) é irretocável, indo da adrenalina e fascinação por toda aquela situação, passando pelo medo de um novato, chegando ao questionamento ético da profissão daqueles homens e, enfim, o desgaste máximo do grupo. Contudo falta à produção a discussão profunda que a foto de um menino sudanês faminto fitado por um abutre, de Kevin Carter, desencadeou mundo afora. O longa até tenta emular a polêmica, mas parece ter pouco tempo para isso. Talvez se investisse alguns minutos a mais nessa história, sem se preocupar com a duração da fita, tivesse se tornado uma pequena pérola. Não que tenha se sabotado, afinal, as boas atuações, o ritmo e a direção competente de Repórteres de Guerra faz dele um bom registro dos registros do Bang Bang Club. Nota: 8

batman-beginsBatman Begins (Idem, 2005). De Christopher Nolan

Com a tarefa de criar um nova cara para o Homem-Morcego, Christopher Nolan não só o fez com louvor como influenciou todo o Cinema, mostrando que era possível recontar histórias de personagens famosos do zero. Contudo, nem bons filmes como 007 – Cassino Royale ou besteiras tipo X-Men Origens – Wolverine, com objetivos parecidos aos de Batman Begins, conseguiram fazer sombra à capa usada por Bruce Wayne. O motivo é simples: Nolan deu seu primeiro passo para fazer com que os fãs do herói se habituassem a um roteiro com muita história, montada aos poucos, ao estilo de um quebra-cabeça com encaixe perfeito, e extremamente satisfatório ao mirar alto e conseguir dar background a um personagem perturbado em meio a um ambiente tipicamente hollywoodiano, com explosões e ação. É bem verdade que tudo isso vai aparecer depois de 60 minutos de trama transcorrida, mas a direção elegante de Nolan (vide primeira aparição de Batman), a fotografia ainda melhor de Wally Pfister (cheia de tons frios) e a trilha sonora marcante de James Newton Howard e Hans Zimmer, tudo empacotado com a atuação competente de Christian Bale, à frente do elenco, dão qualidade ao longa, que só falha por não ser eletrizante na ação e forçar a barra em alguns voos de Batman. Um reinício pra lá de promissor que “daria vida” a um obra ainda maior. Nota: 8,5

joker-poster-for-the-dark-knightBatman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008). De Christopher Nolan

Tudo bem, não há como negar que estamos diante de um dos grandes filmes de todos os tempos. Uma adaptação em história de quadrinhos que vai além dos nichos, um verdadeiro longa-metragem policial tenso e com maldade em dose certa para que possamos sentir a necessidade e a urgência de haver um herói quase “anti”, de parafuso a menos, mas que ainda está longe da insanidade que lhe é imposta. Mas é justamente o catalisador dessa história o responsável por levar o filme a outro patamar. O Coringa de Heath Ledger é uma atuação digna de muitos elogios, mas não só isso, é um marco moderno de entrega a um personagem, com resultados monumentais. Um vilão caótico cujo propósito é mostrar que a maldade é indissociável do mundo e que para provar seu ponto de vista cria um pandemônio pouco inteligível, mas de planos altamente inteligentes. Com falas marcantes, o antagonista rouba a cena de Batman por meio do trabalho intenso de Ledger, o qual busca sempre a nota mais medonha entre aquelas que, em tese, deveriam ser piadas (de mau gosto). Novamente Nolan capricha no volume de história e vai além, criando um jogo de gato e rato trágico, que pega a plateia e os próprios personagens desprevenidos e termina com sacrifícios difíceis de serem digeridos de uma vez, mas com a coragem fazer de seu herói um falso vilão como única forma de criar algum tipo de paz. Nota: 9,5

the-woman-in-black-posterA Mulher de Preto* (The Woman in Black, 2012). De James Watkins

Espécie de Ringu/O Chamado vitoriano, A Mulher de Preto evita sobressaltos e se sai muito bem com espíritos rancorosos e maldições impregnadas em casas amaldiçoadas. Tendo Daniel Radcliffe como protagonista e de rápida identificação com a plateia, o longa ganha pontos por evitar um papel juvenil para o eterno Harry Potter e exigir dele uma boa atuação séria e até certo ponto contida. “Certo ponto” devido à situação na qual o personagem está: pressionado pelo chefe, sofrendo com a perda da mulher e enfrentando a, para ele, nada plausível crença de que a figura de uma mulher morta trajando roupas de luto vem trazendo morte a um vilarejo, é incrível que ele dê um grito mais afoito sequer.  Não que o diretor James Watkins não faça com que haja motivos para tal. Filmando com calma, usando sombras, locações em tomadas abertas e closes em objetos bizarros para criar um clima aterrorizante, o filme ganha corpo. E aqui é obrigatório que os nomes do diretor de fotografia Tim Maurice-Jones e dos diretores de arte Paul Ghirardani e Kate Grimble sejam citados dando-lhes o devido valor, uma vez que as sombras opressoras e a casa luxuosamente medonha são obra dos três. Contudo, possivelmente sem os objetos soturnos com os quais Niamh Coulter decora a mansão – principalmente os brinquedos –, o diretor Watkins talvez não ganhasse tantos pontos em suas imagens. A Mulher de Preto, porém, tem em seu desfecho pretensamente lírico o ponto mais fraco, se tornando covarde e tentando fazer com que a plateia vá para casa um tipo de final feliz. Perde pontos valiosos, claro, mas não tantos que tirem o impacto de sequências como aquela em que um ser se levanta da lama e se dirige até a mansão. Nota: 8

*Filme assistido pela primeira vez


Uma frase, Um personagem

braveheart-original“Todo homem morre, mas nem todo homem realmente vive”

(William Wallace, Mel Gibson – Coração Valente, 1995)


Crítica: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

the-dark-knight-rises-posterDepois de criar um dos melhores filmes da década passada, O Cavaleiro das Trevas, o cineasta Christopher Nolan tinha pela frente uma tarefa árdua: administrar a pressão de manter o nível de qualidade estabelecido em 2008 para a série Batman e ainda fechar uma trilogia de maneira satisfatória. Com uma aresta ou outra sobrando, é possível dizer que a missão foi bem sucedida e Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA/Reino Unido, 2012) consegue se estabelecer muito bem e fugir da sombra de seu antecessor.

Uma das primeiras coisas a se fazer para assistir à terceira incursão de Nolan pelo mundo do Homem-Morcego é tentar não esperar que aqui exista outro Coringa, ainda que este seja um colosso na atuação de Heath Ledger. Deixe o filme de 2008 para trás, a história de Bruce Wayne continua e logo você percebe que os fatos O Cavaleiro das Trevas Ressurge estão intimamente ligados ao longa anterior, contudo sua trama tem seus próprios rumos.

Passaram-se oito anos desde que Batman assumiu a culpa da morte do Harvey Dent enlouquecido para que o promotor se transformasse no herói torto que Gotham precisava e com isso criar uma linha mais dura de combate ao crime da cidade. Uma nova postura que deu certo e levou centenas de bandidos para a cadeia, mas que custou a aposentadoria do verdadeiro herói. A chegada de uma força bruta com miolos chamada Bane (Tom Hardy), contudo, vai mudar essa história.

Esse terceiro longa começa com a tensão da frágil mentira na qual vive Gotham. Da mesma maneira que Bruce Wayne se transformou num recluso de bengala, magro e barbudo que é passado para trás por uma ladra chamada Selina Kyle, (a Mulher-Gato vivida por Anne Hathaway). Os anos cobraram dele essa postura e a caracterização debilitada de Christian Bale faz crescer o esforço de abandonar essa vida medíocre para mais um esforço. E a inteligência do roteiro de Jonathan e Cris Nolan em mostrar que Wayne tem sérios problemas nas articulações só reforça o nível do desafio.

Mesmo porque o vilão da vez é o único da trilogia a poder sair na mão com Batman. Com porte físico monstruoso, acentuado pelos ângulos baixos – e também pelos altos, vide o momento em que põe a mão no ombro de Dagget e questiona quem está no comando – com os quais é filmado, Bane não só é forte, como inteligente o bastante para estar em páreo de igualdade com o protagonista. E é mais que respeitável um ator como Tom Hardy, que atua só com a voz por conta da máscara que usa, ainda conseguir resultados inquestionáveis, mesmo na comparação com Coringa/Ledger.

the-dark-knight-rises-bane2

Mas se por um lado o roteiro cria uma trama novamente cheia de maldade e de proporções épicas ao criar uma cidade sitiada, nele há também uma série de pequenas falhas, como personagens que passam inexplicavelmente pelo bloqueio a Gotham e uma reviravolta desnecessária, ainda que crie mais uma camada a Bane — quase fazendo dele uma figura trágica. Mas para contrabalancear, a trama é construída com cuidado e pretensão, garantindo um desenrolar robusto e a construção de um cenário para que o plano do vilão vá acontecendo.

Outro ponto com dois polos bem distintos é a montagem do filme, que é grosseira e sofisticada ao mesmo tempo. Em muitos momentos, a exemplo da festa na Mansão Wayne, os cortes são secos e as cenas curtas, criando uma sequência um tanto caótica. A falta de cuidados com a montagem ainda inclui certo personagem quebrando a mão de um presidiário com a ação sendo interrompida no meio. Porém, o editor Lee Smith empolga e se redime com sequências em paralelo, como nos discursos de Bane e os acontecimentos que eles relatam.

Mesmo caso da trilha sonora de Hans Zimmer, outra vez cheia de ótimos temas, mas que peca por ser excessiva e quase onipresente durante os 165 minutos da produção. O momento em que é deixada de lado completamente, no embate direto entre Batman e Bane, só faz reforçar o cansaço que ela causa durante boa parte do filme.

Tudo bem, Anne Hathaway é outra “bipolar” e faz de sua mulher gato um poço de candura velado que pode mudar para a ironia e malícia em um piscar de olhos – e numa atuação inspirada.

E é engraçado perceber que O Cavaleiro das Trevas Ressurge é a parte final de uma montanha-russa de sentimentos como medo, vertigem e diversão criada por essa trilogia. Assim como é a parte na qual as lágrimas poderão aparecer pela primeira vez, quando o Alfred de Michael Cane se torna o pai que Bruce precisa e o medo dele é real.

Nota: 8,5

the-dark-knight-rises-catwoman