Go ahead, punk. Make my day.

Archive for Fevereiro, 2011

Oscar 2011 – Vencedores

discurso do rei oscar

A Academia dificilmente premia a ousadia e o moderno e taí a 83ª Edição do Oscar que não me deixar mentir. Aberrações com em 1999, quando um filme como Beleza Americana ganhou os prêmios principais da noite são exatamente isso, aberrações – pelo menos no mundo do Academy Awards. O Discurso do Rei saiu da noite de ontem consagrado, vencendo 4 Oscars (filme, diretor, ator e roteiro original). Um desastre? De forma alguma, só que é mais um recibo passado pelos votantes do prêmio de que existe sim um formulazinha que quase sempre vai dar direto na estatueta . Ou seja, não basta você ser original e criar algo absolutamente novo (A Origem), ou mesmo ser ousado para filmar a psiquê de uma pessoa (Cisne Negro), e até ser uma virtuose por tras das câmeras (A Rede Social). Você precisa ser classicista, simpático e bem acabado, independentemente da história que irá contar.  Foi o que aconteceu no Kodak Theatre nesse domingo. Isso e mais o fato da Academia parecer considerar A Origem um trabalho de fino trato técnico, mas não humano. Preferiram A Rede Social como queridinho nº 2. De qualquer forma, estão aí os vitoriosos de 2011.

Melhor Filme – O Discurso do Rei

Melhor Diretor – Tom Hooper – O Discurso do Rei

Melhor Roteiro Original – O Discurso do Rei, de David Seidler

Melhor Roteiro Adaptado – A Rede Social, de Aaron Sorkin

Melhor Ator – Colin Firth – O Discurso do Rei

Melhor Ator Coadjuvante – Christian Bale – O Vencedor

Melhor Atriz – Natalie Portman – Cisne Negro

Melhor Atriz Coadjuvante – Melissa Leo – O Vencedor

Melhor Animação – Toy Story 3

Melhor Filme em Língua Estrangeira – Em Um Mundo Melhor (Dinamarca)

Melhor Documentário – Trabalho Interno

Melhor Fotografia – A Origem

Melhor Montagem – A Rede Social

Melhor Trilha Sonora – Trent Reznor e Atticus Ross, por A Rede Social

Melhores Efeitos Visuais – A Origem

Melhor Direção de Arte – Alice no País das Maravilhas

Melhor figurino – Alice no País das Maravilhas

Melhor Maquiagem – O Lobisomem

Melhor Documentário em curta-metragem – Strangers no More

Melhor Curta-Metragem – God of Love

Melhor Animação em curta-metragem – The Lost Thing

Melhor Canção Original – “We Belong Together” – Toy Story 3

Melhor Edição de Som – A Origem

Melhor Mixagem de Som – A Origem


Crítica: O Vencedor

The-Fighter-posterTudo bem que O Vencedor (The Fighter, EUA, 2010) é um bom filme, bem dirigido, produzido e interpretado, contudo trata-se do velho caso de roubo de cena. A história real do boxer Micky Ward tem como protagonista, no cinema, seu irmão, Dicky Ward, num trabalho descomunal de Christian Bale.

Desde a primeira cena, quando o diretor David O. Russell toma depoimentos de Micky (Mark Wahlberg) e Dicky, é possível perceber a proximidade dos irmãos, recurso que já determina um fator importante para toda a trama: a influência da família do boxeador em sua carreira. De um lado,está Dicky, também lutador que teve seus dias glória quando conseguiu derrubar Sugar Ray Leonard e que treina o irmão desde sempre, mas que sempre pisa na bola em algum momento da carreira de Micky. Do outro lado está a mãe, Alice (Melissa Leo), uma verdadeira manipuladora que não quer fazer mal ao filho, mas que obviamente gosta de desfrutar dos trunfos dele e, como empresária, não reconhece os próprios limites, impedindo a ascensão de seu “agenciado”.

Talvez a direção mais contida de O. Russell dê tanto espaço para os atores. Quem conhece o trabalho do diretor em longas como Três Reis sabe que ele não é dos mais sutis e sabe “mostrar” o trabalho atrás das câmeras. Aqui, apesar de dinâmico e seguro, o cineasta percebe o material humano que tem nas mãos e deixa ele brilhar. Ainda bem, uma vez que as escolhas de estilo não levam O Vencedor muito longe. Mostrar o ringue por meio das objetivas de uma TV? OK, mas não é algo exatamente original. Câmera no ombro buscando realismo? Excelente, mas de um filme que trata relações humanas é um recurso já esperado. Ajuda muito a boa reconstituição da década de 1990, quando se passa o filme, com destaque absoluto para os figurinos que fuçam muito bem a moda da época. Isso e mais o fato de que as lutas, que deveriam ser um dos pontos altos da produção, não passam do trivial, chegando a ser artificiais em alguns momentos, vide a elipse na volta de Micky aos ringues ao som de “Back in the Saddle”, do Aerosmith.

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Assim, são os atores que tomam conta do longa-metragem. De longe o favorito ao Oscar de Ator Coadjuvante, Bale justifica o reconhecimento. Começa pela caracterização, algo sempre muito forte em qualquer trabalho no ator. Careca e muito magro, ele vai além e demonstra todos os reflexos do uso crack também por meio do comportamento meio hiperativo. O que o salva é o amor pelo boxe e a vontade de levar seu irmão adiante, mesmo que inconsequentemente. O roteiro (ou diria a vida?) demonstra isso em vários momentos, tendo destaque o plano mirabolante de levantar uma grana para Micky, o qual começa em tom cômico e vai terminar de maneira quase trágica, inclusive com a prisão de Dicky. Um peso que só não é maior que a mãe do protagonista, Alice. Interpretada de maneira apaixonada por Melissa Leo, ela quase convence quando faz seus joguinhos para desmanchar as barreiras do filho, o qual vai descobrindo aos poucos o quanto ela vem lhe fazendo mal profissionalmente. Ponto para a inteligência do roteiro em dar sempre um tom cômico às chantagens baratas de Alice e guardar a ela uma emocionante cena ao lado de Dicky, quando cantam juntos “I Started a Joke”, dos Bee Gees – que ainda serve para mostrar que o filho viciado tem consciência do mal que vem fazendo ao usar crack.

Como contrapeso está Amy Adams, num papel realmente diferente em sua filmografia. Durona e extremante sexy, ela detecta logo os problemas na família Ward e se torna um porto seguro para Micky. Em tempo, mais um motivo para parabenizar o figurino do longa: o decote, logo na primeira cena de Amy, já identifica por completo a personagem e deixa o trabalho da atriz até mais identificável com a plateia.

Fechando as qualidades com uma trilha sonora rocker (indo de Led Zeppelin a Red Hot Chili Peppers, passando por Whitesnake e Rolling Stones), O Vencedor não foge muito à regra das biografias – pensando bem, até nas boas atuações ele é igual -, mas que não se transforma num peso para si mesmo, trabalhando comédia, drama e superação de forma comedida, mas que, claramente, tem seu protagonista ofuscado pelos coadjuvantes. Ninguém mandou escalar Bale para fazer sombra em Mark Wahlberg.

Nota: 8

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Crítica: Cisne Negro

black-swan-poster-largeToda a carreira do diretor Darren Aronofsky parece ter sido um ensaio para Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010), de onde é possível extrair uma série de pequenos elementos presentes em obras como O Lutador. Mas o importante não é ficar buscando esses tiques estilísticos do cineasta na narrativa sobre a bailarina Nina, afinal, depois de 13 anos desde Pi, esta é o filme que melhor define Aronofsky.

A filmografia do novaiorquino é abarrotada de personagens bizarros, fora do “normal social” de alguma maneira e aqui ele eleva a estranheza a um patamar no qual apenas esbarrou com a senhora viciada em anfetaminas de  Réquiem para um Sonho. Nina (Natalie Portman) é uma bailarina de técnica perfeita em busca de reconhecimento e será instigada para conseguir desempenhar os difíceis papéis para os quais foi escalada: ser os cisnes branco e negro na montagem do clássico “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky. A certa altura, o diretor do espetáculo, Thomas Leroy (Vincent Cassel, em atuação forte como sempre), explica à delicada dançarina que ser cisne branco não seria dificuldade para ela, mas que a personagem sombria da peça dependeria de mais malícia e paixão. Daí a grande importância de Lily (Mila Kunis) para a trama. Ela é exato oposto de Nina: de técnica apenas regular, mas de sensualidade aflorada e nada sutil. Ou seja, a imagem de espelho da protagonista, o reflexo invertido. Algo que levará a já afetada Nina à paranóia completa, com medo de perder o papel para a novata, sem que nunca fique claro quanto daquilo é realidade, quanto é distorção da mente da bailarina.

Para mostrar essa relação de atração/repulsão, o filme é cheio imagens espelhadas. Quando Lily aparece pela primeira vez, ajeita o cabelo para atrás da orelha, quando o corte volta para Nina, ela faz o mesmo gesto e seu reflexo escurecido está na janela do metrô. Em outra passagem, quando Thomas anuncia que a mesma bailarina será o cisne branco e negro, no exato momento em que ele diz o nome do segundo personagem há um corte para a imagem dele no espelho – como se anunciasse a natureza do personagem para Nina.

Incrível, como toda a técnica do longa. Usando uma fotografia descorada, como se as cores fossem expostas ao sol durante muito tempo, a sensação que se tem é de frieza e impessoalidade, o que remete à falta de emoção na dança de Nina e ao mesmo tempo à loucura que ela deixa aflorar aos poucos. Algo que leva a outro ponto filmado com destreza por Aronofsky. Obcecada pela perfeição, ela treina à exaustão e o diretor mostra através de muitos planos-detalhe a dor que isso causa, a exemplo do rodopio que a dançarina treina em casa e lhe custa uma unha despedaçada. A câmera foca de maneira sádica o pé da garota girando até que o pior acontece. Antes disso, entretanto, repare como a câmera gira como se fosse o olhar de Nina no tablado das audições em busca dos papéis da montagem. Uso do plano em primeira pessoa genial, que ainda vai justificar a forma agressiva com a qual Nina busca melhorar seu rodopio e se machuca.

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Em nenhum momento o roteiro esconde que há algo de errado com ela, que coça compulsivamente as costas – a “coçadinha” no reflexo infinito gerado por vários espelhos durante a prova do figurino da peça é esquisito e aterrorizante. Bulímica, magra e perturbada, Nina recebe uma definição mais precisa de seu diretor: disciplinada, imponente e frágil. A imponência ela tem na dança – mostrada em lindos takes em steady cam – e a fragilidade está na personalidade infantilizada e reprimida – repare no quarto cheio de bichos de pelúcia, ponto para direção de arte. Falta a ela não só paixão, mas a sexualidade que Thomas tenta aflorar. Não, não há qualquer assédio sexual, como muitos podem achar em todas as investidas do chefe, que a toca, beija à força e de quem parece abusar, mas cujo intuito é despertar a libido necessária para o cisne negro. Tanto  assim, que após os supostos abusos, Thomas deixa Nina de lado.

E se Cisne Negro tem tanta força é porque diretores de cena, fotografia e de arte contam com a atuação fantástica de Natalie Portman. Trabalhando sempre num tom abaixo de todos os personagens, ela embarga a voz para surpreender quando começa a dançar, momento em que cresce e se agiganta mesmo com o corpo incrivelmente esquelético. Mas que volta a ser apenas uma menina bailarina no momento em que vai a uma boate e a já amiga Lilly apresenta garotos interessados apenas em sexo. O diálogo que segue é revelador:

Rapaz – Você não disse, quem é você?
Nina – Sou bailarina…
Rapaz – Não, seu nome…

O que demonstra toda a inocência sexual. E é aqui que o roteiro dá a cartada final. Exatamente deste momento em diante, Nina entra numa “bad trip” que marca todo o terceiro ato de Cisne Negro e vai culminar no espetáculo. Uma apresentação esquizofrênica e lindamente trágica, bastando para isso uma dose de alucinógeno e uma noite de sexo. Tudo traduzido numa montagem caótica e cheia de cortes ligeiros. Intensa é a palavra que descreve o final do longa, cujas frases “Eu senti. Foi perfeito” não poderiam ser melhores para traduzir todo o arco dramático pelo qual Nina passa. Luzes e longos aplausos fecham o filme, talvez o melhor de 2011, ainda em fevereiro.

Nota: 10

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Resumo (14 a 20 fev)

hangoverSe Beber, Não Case! (The Hangover, 2009). De Todd Phillips

Todd Phillips é o rei da atual comédia de farra. Consegue ser bom de bilheteria, ter piadas ultrajantes e ainda fazer um filme realmente bom. Assistindo a Se Beber, Não Case! o que vem à cabeça é como ninguém pensou nisso antes. Se numa ressaca a dor de cabeça é tanta que a amnésia é inevitável, é claro que um filme como esse poderia dar certo. A apelação corre longe, ainda que as piadas sejam estritamente de conteúdo adulto, isso porque Phillips consegue falar de sexo e bebida no limite entre o engraçado e o mau gosto – conste que ele sempre está no primeiro time. A ideia genial é: grupo de amigos vai fazer uma despedida de solteiro em Las Vegas, acordam na manhã seguinte com uma galinha, um tigre e um bebê no quarto, mas sem o noivo. A narrativa segue a maneira como eles irão encontrar o rapaz e descobrir o que fizeram durante à noite. Se tornando  uma das melhores comédias dos últimos anos, Se Beber, Não Case! ainda guarda para os créditos a melhor sequência de todo o longa-metragem (vide post anterior deste blog). Nota: 8

the-runaways-posterThe Runaways – Garotas do Rock* (The Runaways, 2010). De Floria Sigismondi

Quem viu as prévias de The Runaways (ignorem o subtítulo brasileiro tosco), sabia que o longa tinha muito para ser um novo The Doors, afinal, Dakota Fanning é o grande motivo para se assistir ao filme sobre primeira banda de rock só de meninas. OK, ela não chega à atuação mediúnica de Val Kilmer, mas está impecável como Cherie Currie, a vocalista do grupo. A cena em que refaz a música “Cherry Bomb” no famoso show das Runaways no Japão é espetacular, num misto de edição estilosa, direção idem e atuação hipnótica. Por falar nisso, as apresentações das garotas são todas muito bem pensadas pela diretora Floria Sigismondi, mas esta falha em outros pequenos detalhes, como em posicionamentos dos atores em cena  – quando o carro da banda para em frente ao local de apresentação no Japão, por exemplo, os fãs de movem de forma muito artificial. O roteiro é dos mais convencionais no que diz respeito à dinâmica da narrativa, indo do céu ao inferno como visto em filmes recentes como Ray e Johnny & June. O diferencial está cenas de sexo, bastante ousadas, mas que não servem de muita coisa para os personagens, uma vez que apressado, o longa não os desenvolve adequadamente. Assim, apesar de interessante, o empresário Kim Fowley se transforma apenas em objeto de curiosidade – numa atuação louca de Michael Shannon -, além do resto da banda estar lá quase que para fazer número. À exceção de Joan Jett, a outra protagonista da história tem espaço na trama e é vivida sem muita intensidade, mas com competência por Kristen Stewart. Apesar do final um tanto anti-climático, o fim da história não poderia ser mais deprimente para todas as garotas do rock… Ops! Não pude evitar. Ótima reconstituição de época, com bons figurinos e direção de arte, além da belíssima fotografia que emula filmes fotográficos vintage.  Nota: 8

*Filme assistido pela primeira vez


Trilha – Se Beber, Não Case

Eu criei o Trilha ainda na época do antigo Cinefilia com intuito de incluir algumas cenas memoráveis do Cinema das quais música e imagem simplesmente não podem ser dissociadas. Passaram pelo Trilha, as inigualáveis danças de Al Pacino em Perfume de Mulher e a de Salma Hayek em Um Drink no Inferno, além de outras como a clássica “Johnny B. Goode” em De Volta Para o Futuro.

Essa é uma das partes que mais gosto desse blog xexelento. Não sei o motivo de ter demorado tanto a estrear a seção no novo Cinefilia. Mas começo com uma das cenas mais memoráveis dos últimos 20 anos. Depois de uma noitada incrível em que nem tudo foi desvendado, os quatro amigos de Se Beber, Não Case encontram a máquina fotográfica que registrou toda a festa.

Não bastando o filme se dos mais engraçados, a sequência de fotos durante os créditos que fecham a comédia se torna um clássico nas mãos do diretor Todd Phillips, um rei de filmes de farra. Então, ao som de “Right Round”, parceria de Flo Rida e Ke$ha, bem-vindos ao Trilha.


Em tempos de Oscar…

Oscar?por Ryot IRAS


Resumo (7 a 13 fev)

poster-ninth_gateO Último Portal* (The Ninth Gate, 1999). De Roman Polanski

Eu respeito Polanski, um dos maiores de todos os tempos. Mas como você deve saber, ninguém é perfeito e ao assistir a O Último Portal, pode comprovar materialmente que nem o cara por trás de O Bebê de Rosemary e O Inquilino é blindado dentro do gênero no qual se tornou um expoente. Dizer que aqui há um filme de terror é mera rotulação, já que há alguns poucos elementos espalhados pela trama sobre uma investigação a respeito da autenticidade de um livro que pode ter sido escrito pelo próprio Lúcifer em colaboração com um homem. Nos primeiros minutos do longa, a boa mão de Polanski é percebida por meio do mistério – parece que há sempre algo a mais, não revelado -, além de uma maldade implícita em cada cena, seja no suicídio filmado com uma naturalidade incrível ou nos diálogos satânicos que mais parecem uma conversa trivial. Além do humor negro característico de um roteiro escrito pelo próprio cineasta. Entretanto, aos poucos, o suspense criado começa a se esvair num misto de não ter para onde ir e não saber como contar. Passando por um dose maciça de falta de ritmo durante o segundo ato da narrativa, O Último Portal cria um desfecho dos mais infantis e cria cenas que nem parecem dirigidas por alguém como Polanski, a exemplo do ridículo ritual para de invocação do Diabo e no repeteco do voo de Emmanuelle Seigner. Difícil de entender o que o cineasta queria fazer. Pena que um dos grandes atores da atualidade, Johnny Depp, tenha trabalhado com ele nesse longa desnecessário. Até o mediano A Janela Secreta, de temática parecida, teve melhores resultados. Nota: 6

amelie posterO Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, 2001). De Jean-Pierre Jeunet

Alguns filmes nascem para serem mágicos. Amélie Poulain talvez seja um dos maiores exemplos disso. Tudo, absolutamente tudo na produção tem esse viés, desde sua maravilhosa fotografia iluminada em tons esverdeados e amarelados até os personagens que pertencem a um tipo de realidade alternativa, passando pela narrativa rápida, romântica e de tons melancólicos, ainda que esta seja daqueles histórias que te deixam de alma lavada. Se peca em algum ponto, pode-se destacar uma demora desnecessária na concretização da relação entre Amélie e Nino, mas perfeitamente compensada pelas cenas que fecham o longa. Aliás, compensada por quase 120 minutos de cenas de visual e beleza excepcionais. E como descobrir novos detalhes em um filme a cada sessão, não é mesmo? Dessa vez me chamou muito a atenção o momento em que Madeleine lê a carta montada por Amélie. Enquanto a narração acontece, repare nos sons ao fundo, eles mostram de qual das antigas cartas saíram as frases, lidas pela protagonista minutos antes e ilustradas com os mesmos efeitos sonoros. Delicado e belíssimo. Como todo o filme. E alguém ai tem dúvida de que Amélie Poulain está entre as maiores personagens femininas da História do Cinema? Nota: 9,5

el-secreto-de-sus-ojos_posterO Segredo dos seus Olhos* (El Secreto de sus Ojos, 2009). De Juan José Campanella

Se há uma palavra para definir O Segredo dos seus Olhos ela é sutileza. Não há qualquer sequência, elemento ou atuação que transpareça algo de maneira gratuita ou exacerbada. E se há como reduzir todas as camadas do filme em um elemento, ele é a paixão. É ela que move todos os personagens, mesmo que essa paixão seja algo negativo e leve uma garota inocente a ser estuprada e morta. O filme trata justamente desse crime e como vários personagens que orbitam a tragédia desenvolvem suas vidas a partir daquele ponto. Há uma fala maravilhosa de Pablo Sandoval (vivido com gosto por Guillermo Francella) que resume toda a narrativa. Num bar, ele relê cartas do suspeito a procura de alguma pista e não sendo bastante eloquente em seu discurso sobre como mudamos qualquer coisa em nossas vidas, exceto as paixões – algo que justificará cada uma das atitudes vistas na tela -, o roteiro ainda organiza uma daquelas ótimas epifanias que levam suas investigações à frente e culmina num plano-sequência absolutamente fantástico, o qual começa numa panorâmica sobre um estádio e se desenvolve numa perseguição cansativa e realista. O Segredo dos seus Olhos é narrado por meio de flashbacks, depois que o protagonista Espósito (Ricardo Darín), aposentado, resolve retomar suas lembranças e escrever um livro sobre o caso que acompanhou nos últimos 25 anos. Cena a cena, o cineasta Campanella, também roteirista ao lado de Eduardo Sacheri (adaptando seu próprio romance, La Pregunta de sus Ojos), cria uma narrativa sólida, à primeira vista sobre maldade, a busca de castigo e de final perturbador. Todavia, seu maior mérito é ir além, trazendo sutileza em meio a um ambiente tão bruto, inteligentemente filmado e escrito – o uso do recurso de pista e recompensa aqui é extraordinário. Ao final, as peças se encaixam perfeitamente e a vida de quem passou pelo filme será mudada, de forma esperançosa ou angustiada, mas com caminhos diferentes a serem seguidos. A dica para ver o longa é: seja atento aos detalhes, eles fazem toda a diferença, e tente ir além da história sobre a investigação. Nota: 10

*Filme visto pela primeira vez


Thunder, Thundercats…

Depois do curta-metragem de Mortal Kombat Rebirth, surge mais um mini-filme para causar discussão. Um não confirmado teste de CGI de Thundercats foi veiculado pela Internet como parte da criação de um filme do famoso desenho. Não há nada de concreto sobre a veracidade da animação, que traz Lion-O e Escamoso num pequeno combate, incluindo, claro, a Espara Justiceira e o famoso bordão do heroi.

Pode não ser real, nem das melhores coisas que já feitas com a franquia, mas dá uma ponta de esperança aos loucos com o desenho oitentista. Confiram:

*Se não for pra valer, por incluir a logomarca da Warner Bros., logo, logo o vídeo sai do ar no YouTube.


Jack is back…

Espere um momento… Rá!

Jack Torrance laugh


Um novo MK… Tá, nem tão novo…

Tudo começou em  junho do ano passado, quando um curta-metragem de quase 9 minutos deu uma cara nova para a marca Mortal Kombat. De jogos de sucesso a filmes meia-boca (o primeiro é bonzinho, vai), a marca MK rendeu muito dinheiro, mas andava desgastada. Eis que o tal filme deixou muita gente em alerta. Não à toa. A produção era ótima, de primeiríssima e atualizara a história todo o universo MK, trazendo mais para a realidade, um tipo de Batman Begins para o jogo/filme/série – e como é clichê dizer que isso ou aquilo equivale ao Batman Begins para o heroi, enfim.

Descobriu-se que o ótimo curta é de Kevin Tancharoen, criado para tentar viabilizar uma nova pordução nos cinemas. Não deu certo o cinema, mas Rebirth, foi o ponto de partida para uma série na Internet bancada pela Warner Bros, anunciada no início de 2011. Se mantido o estilão violento, nojento e realista, que dá outra cara os personagens mais batidos, tem tudo para chegar a uma sala (sem ser a da sua casa) em breve.

Entendam o porquê.


Resumo (31 jan a 6 fev)

ninja_assassin_posterNinja Assassino* (Ninja Assassin,2009). De James McTeigue

Incrível como um filme pode ser tão não-original. Não há absolutamente nada, nada mesmo nos quase 100 minutos de Ninja Assassino que você já não tenha visto antes. Exaustivamente. A começar pelo roteiro sobre uma vingança do tal ninja do título que envolve um amor do passado. Ecos de Coração Valente (sim, não se assuste) até no momento em que o amor do anti-herói é amarrada e morta. Outro épico também é lembrado. 300 é referência a todo tempo, culminando num combate de ninjas em que a câmera varia o zoom, fechando e abrindo o quadro, em câmera lenta enquanto o farto sangue digital jorra. Alguém aí lembrou do ataque do exército do Rei Leônidas? Até a si mesmo o diretor James McTeigue plagia. Repare como a arma com a corrente deixa uma rastro por onde a lâmina voa. Quem se recorda das adagas de V em V de Vingança? Nem a violência gratuita e exagerada da promissora primeira cena serve de muita coisa, afinal, quando você acha que Ninja Assassino tomará o caminho do “desligue seu cérebro”, ele capricha numa cena melancolicamente ridícula dando sinais de que se leva à sério. Haja paciência para aguentar os nada orgânicos flashbacks que conta o passado de Raizo de maneira cerimoniosa e que ainda quebra o ritmo da primeira metade do longa. Aliás, dizer que quebra o ritmo é força de expressão, é quase insuportável aguentar pela enésima vez o rosto nada expressivo de Rain, com olhar perdido em suas lembranças e que introduzem os tais flashbacks. Dizer que ele não é ator é chover no molhado. Novidade será a explicação de como McTeigue conseguiu fazer uma ótima estreia e se perder completamente nesse segundo trabalho. Nota: 4

Poster - How To Train Your DragonComo Treinar Seu Dragão* (How to Train Your Dragon, 2010). De Dean DeBlois e Chris Sanders

Assim como fizeram no terno Lilo & Stitch – na época trabalhando para a Disney -, Dean DeBlois e Chris Sanders aqui não têm uma história exatamente nova, mas trabalham a relação entre os personagens de maneira tão agradável e humana, que dificilmente alguém vai se incomodar com os clichês. Chega a ser irônico, mas a relação humana que digo é entre um garoto viking e seu dragão. Nada muito diferente da havania Lilo e seu alien Stitch. Há a aproximação, os primeiros contatos e a amizade, tudo contado com uma graciosidade que te lima até estranhamento do dragão Banguela ser a cara de um gato – com asas e  rabo. Se Lilo tinha que ensinar bons modos ao azulado extraterrestre, aqui, Soluço procura entender o comportamento do azulado Banguela, enquanto aplica seus conhecimentos  num trainamento para revolucionar o que se sabe sobre a espécie considerada uma praga pelo seu povo. O fato da relação do garoto ser complicada com o pai – desculpe, mas me lembrei de novo da animação anterior, Lilo e a irmã Nani -, apesar do clichê, é atenuada pela posição do próprio progenitor. Apesar de impôr sua vontade é um cara cheio de dúvidas e que até escuta conselhos sobre as razões do filho, que não se encaixa na força-bruta nórdica. E se lá pelas tantas a história dá um guinada meio forçada para achar um inimigo em comum entre dragões e humanos, as incríveis sequências de vôo e o final um tanto mais corajoso para esse tipo de produção – além da, repito, bela relação entre os personagens – fazem valer o programa, emocionante e divertido. Nota: 8

Devil posterDemônio* (Devil, 2010). De John Erick Dowdle

Vindo da desnecessária refilmagem Quarentena (filhote bastardo do ótimo espanhol [REC]), o diretor John Erick Dowdle se se manter  comesse tipo de trabalho, estará entre os cineastas que mais passarão em branco na história do Cinema. Simples: ninguém viu Quarentena e Demônio simplesmente não causa qualquer emoção no espectador. Não pra sentir raiva do longa, mas não há empolgação. A trama caminha direitinho, sem muitos tropeços, porém cadê a relevância dela? Você quer saber (apesar de já saber) o que se passa dentro do elevador cheio de estranhos, todavia não há sequer um personagem que te dê razão para se preocupar com ele. Enfim, Demônio tem tudo para ser daqueles filmes pegos na TV a Cabo, já pela madrugada tediosa que se assiste e vai esperando o sono. Acabou? É cama. E daí que elevadores quase caiam em cima de  um técnico e ele não avisa ninguém? E daí se o ambiente claustrofóbico não é explorado? E daí se a narração em off falta só te perguntar se está tudo entendido? E daí se um personagem pega um cabo de energia solto e põe o pé na água? E daí se nem os bons movimentos de câmera dão qualquer importância ao filme? E daí se a reviravolta já esperada de um argumento M. Night Shyamalan chega e amarra a narrativa? Aliás, por qual motivo ele mesmo não dirigiu e roteirizou sua história? E daí isso também? Os rápidos 80 minutos passam e você mal trocou de posição na cadeira. Nota: 6

*Filme visto pela primeira vez


Crítica: Incontrolável

Unstoppable posterEm 1994, um filme de ação chamou atenção e recebeu elogios pela criatividade e intensidade. Velocidade Máxima não era uma obra-prima, mas como filme de ação era exemplar ao contar a história de um ônibus que não podia diminuir a velocidade enquanto rodava no trânsito de Los Angeles. Ganhou várias cópias.

Cartilha Jan de Bont aprendida, Tony Scott, inspirado por um episódio real, criou o equivalente para o início da segunda década de 2000. Em Incontrolável (Unstoppable, EUA, 2010) o veículo é um trem que dispara pelas linhas férreas norte-americanas.

O cineasta não tenta criar um novo clássico e os indícios disso estão na quantidade de clichês espalhados pelo roteiro. Algo que o diretor abraça sem muita culpa, seja no descuido de um gordinho desleixado (dos piores clichês) que causa toda a situação, seja na figura do chefe estúpido que só parece ser míope para as melhores soluções (o chefe é sempre tapado). Isso sem contar na dupla que irá salvar o dia.

O novato vivido por Chris Pine chega para o primeiro dia na ferrovia cheio de problemas com a esposa. O calejado Denzel Washington não só irá dar lições no trabalho como na vida para o jovem, numa atuação segura, tranquila e carismática. Pine também não vai mal, misturando a insegurança do primeiro dia e sua verdadeira preocupação, a família. Caso não tivesse dois bons trabalhos de seus atores, Tony (o irmão de Ridley) poderia perder a linha do filme (e vale uma desculpa para o trocadilho). Afinal, a relação mestre/aluno não é nenhuma novidade.

O que ganha o espectador de verdade é quantidade de provações e a maneira na qual elas se encadeiam (leia-se: uma atrás da outra). A situações são limites e a ação simplesmente não te deixa respirar, dirigida com maestria. As forçações de barra, claro, estão lá, mas no fim das contas irão apenas aumentar a diversão.

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Diversão que é estragada pela insistência da inclusão da imprensa como uma espécie de narradora de Incontrolável. Invariavelmente óbvios, os repórteres só entram em cena para sublinhar o que o filme acabou de jogar na cara da plateia. O maior exemplo talvez seja a fala de um jornalista sobre o plano de tentar descarrilar o trem 777. Todos sabem que o veículo está abarrotado de carga combustível, o que não evita que o repórter apareça para dizer o que vai acontecer e pode ser perigoso pois “há vários vagões” com o tal material.

Se irrita a quantidade “breaking news” na tela, a repetição de movimentos de câmera de Tony Scott quase desanda de vez o programa. Repare na lógica da cena em que Denzel e Pine correm para buscar o 777 dando ré na locomotiva onde estão. Em quase todos os diálogos de Washington a câmera faz um travelling da esquerda para a direita acompanhando o movimento de cabeça do ator, que em seguida é enquadrado de frente.

Falta de criatividade que só pode ser perdoada pela maneira como o diretor filma o 777. Em muitos momentos o trem parece humanizado, sempre ameaçador quandoo mostrado de longe e rompendo uma curva rapidamente nos momentos de maior perigo. Ou como na cena em que precisa ser domado para não sair dos trilhos e destruir uma bairro inteiro.

Eletrizante e com desfecho altamente realista, sem planos mirabolantes. Mas que não deixa de lado os travellings e gruas adorados por Tony Scott.

Nota: 7

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Resumo (24 a 30 jan)

running scared posterNo Rastro da Bala* (Running Scared, 2006). De Wayne Kramer

Um belo exemplo de montagem estilosa que dá dinamismo e eleva o interesse pela a trama. Wayne Kramer também ganha muitos pontos com uma direção complexa, cheia de movimento e na mise-en-scène das cenas. A trama é bem inventiva e lembra bastante o estilo de Guy Ritchie. Com ação incessante, o longa cria situações cada vez mais embaraçosas para o personagem de Paul Walker, que precisa correr para encontrar uma bala disparada (assista e entenda) e a arma que a cuspiu. Por vezes cômico, por vezes violento (tanto grafica quanto psicologicamente, vide a ótima sequência com pedófilos), a grande sacada de No Rastro da Bala é não ser previsível e ter ritmo acelerado sem ser vertiginoso. Bem, quase sempre sem ser vertiginoso, a luz neon nas cenas finais, apesar de original, é usada sem moderação. A retina cansada vai acusar o abuso. Entretanto, um filme que consegue dar algum carisma ao aspirante a galã Walker já merece respeito. Nota: 7,5

I Saw The Devil PosterI Saw the Devil* (Akmareul Boatda, 2010). De Ji-woon Kim

Dono de uma filmografia diversificada, indo da comédia de ação das mais divertidas Os Invencíveis até ao terror típico asiático em Medo, o sul-coreano Ji-woon Kim consegue aqui mais um excelente resultado trabalhando suspense e terror literalmente no fio da navalha e ainda criando uma trama sólida e inteligente. E mais: por incrível que pareça, dramática. A história gira em torno de um assassino serial vivido por Min-sik Choi (o mesmo de Oldboy) e de seu nêmesis recentemente conquistado, Byung-hun Lee (o Mal de Os Invencíveis), cuja namorada foi morta pelo psicopata. O longa é plasticamente um primor e mesmo com violência das mais sujas, Kim filma tudo com uma paleta de cores contrastantes entre a brancura fria do inverno e o vermelho do sangue dos corpos. Para os amantes do cinema extremo, I Saw The Devil é cheio de cenas cruéis e/ou pesadas, não tem pudores em mostrar feridas, sexo e tortura (física e mental). Mas tudo muitíssimo bem amarrado com um roteiro que cria uma caçada desenvolvida com cuidado e, mais uma vez, de maldade ímpar. A construção dos personagens merece destaque. O policial de Lee aos poucos vai ao inferno em busca de vingança, numa descida que o colocará lado a lado do inimigo. Este personificado com intensidade tão grande quanto o Oh Dea-su de Oldboy, mas dessa vez sem qualquer remorso e ainda aliado a inteligência só menor que seu impulso de psicopatia. Ao final dos 140 minutos, o cansaço é natural – ainda que não desejado – e muito bem refletido nas lágrimas do personagem que finaliza o filme caminhando aos prantos. Nota: 8,5

The Karate Kid posterKaratê Kid* (The Karate Kid, 2010). De Harald Zwart

Usar o mesmo título para esta refilmagem do clássico juvenil de 1984 é uma verdadeira piada. Afinal, aqui está um atestado de ignorância por parte dos produtores (incluindo papai Will Smith e mamãe Jada Pinkett-Smith) quanto ao conteúdo do filme que vão lançar. Mercadologicamente é necessário, afinal, esta é uma “grife” dos filmes de artes marciais nos Estados Unidos que já rendeu quatro longas – méritos apenas ao original. Contudo, os passos seguidos na trama desse novo Karatê Kid são praticamente os mesmos da fita de quase três décadas atrás. Se você conseguir lidar com o fato de que a luta em questão é o kung fu, pode até sentir simpatia pelo garotinho vivido por Jaden Smith. Apesar de imitar muitos do tics de Will Smith (repare no “uhhh!” de alívio que solta em certo momento), o moleque é carismático, faz cara de choro como poucos e ainda convence no trainamento ao lado de Jackie Chan. O astro de Hong Kong ajuda muito: o personagem é misterioso sem um peso exagerado e lhe é reservado, de longe, o momento mais tocante do filme. O instante culmina a fita e dá lugar ao famoso torneio pelo qual o jovem Jaden terá que passar invariavelmente. Sem o famoso golpe da garça, porém, esses são os minutos mais fracos do filme – e olha que até ali apenas a tal cena com Chan vai  além do simpático. Algo que transforma o que deveria ser o ápice da história, num final dos mais anti-climáticos e forçados – inimigo dando troféu a protagonista e alunos de rival cumprimentando mestre alheio? Isso é muito 1984. Nota: 6

*Filme visto pela primeira vez