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Archive for Fevereiro, 2012

Oscar 2012 – Os Vencedores*

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Como já era esperado, O Artista e A Invenção de Hugo Cabret polarizaram os prêmios da 84ª edição do Oscar, com cinco prêmios cada um. A vantagem foi para o primeiro, que levou as principais estatuetas, incluindo as de melhor filme, diretor (Michel Hazanavicius) e ator (Jean Dujardin). Já a produção de Martin Scorsese, ficou com as categorias técnicas como fotografia, direção de arte e efeitos visuais.

Era a disputa de filme um francês sobre a Hollywood da década de 20 contra uma produção americana sobre o cinema francês como pioneiro na 7ª Arte. A cerimônia durou pouco mais de 3h e chegou a criar certa tensão sobre o futuro dos dois filmes na premiação de 2012, com Hugo Cabret vencendo em várias categorias na primeira parte da festa. Contudo, após faturar o Oscar pela trilha sonora, a produção francesa chegou ao final recebendo a estatueta principal das mãos de Tom Cruise, apresentador da categoria, que este ano indicou nove produções.

A veterana Meryl Streep, com o recorde 17 indicações, enfim, ganhou outro Oscar pela interpretação da ex-primeira ministra inglesa Margareth Thatcher em A Dama de Ferro. A última vitória da atriz foi em 1982, por A Escolha de Sofia, e durante o discurso ela chegou a dizer que aquela deveria ser sua última vez em cima do palco recebendo o Oscar. Outro veteraníssimo, Christopher Plummer, se tornou o ator mais velho a receber a premiação em toda a História. Aos 82 anos, apenas dois a menos que o próprio Oscar, ele foi laureado como melhor ator coadjuvante pelo filme Toda Forma de Amor.

A música “Real in Rio”, dos brasileiros Sergio Mendes e Carlinhos Brown para a animação Rio, foi superada pelo tema “Man or Muppet”, de Os Muppets, na categoria melhor canção. Já Rango foi considerada a melhor animação de 2011, enquanto o iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Campanha

A edição do Oscar foi marcada pela intensa campanha para atrair o público para as salas de cinema, atualmente em queda por conta dos filmes baixados na Internet e facilidades tecnológicas como tablets e smartphones para exibição dos mesmos. Para isso, contou com atores falando sobre suas experiências no cinema, seus primeiros filmes e magia que isso lhes causou. Até Justin Bieber participou da costumeira sátira feita pelo apresentador Billy Cristal no início da cerimônia brincando com a situação ao dizer que precisaria apenas estar ali durante alguns segundos para ajudar com a popularidade entre os adolescentes.

Vencedores

Melhor Filme
O Artista

Melhor Diretor
Michel Hazanavicius (O Artista)

Melhor Ator
Jean Dujardin (O Artista)

Melhor Atriz
Meryl Streep (A Dama de Ferro)

Melhor Ator Coadjuvante
Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)

Melhor Atriz Coadjuvante
Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)

Melhor Roteiro Original
Meia-Noite em Paris

Melhor Roteiro Adaptado
Os Descendentes

Melhor Trilha Sonora
O Artista

Melhor Canção
“Man or Muppet” (Os Muppets)

Melhor Filme Estrangeiro
A Separação (Irã)

Melhor Animação
Rango

Melhor Curta-metragem
The Shore

Melhor Curta (animação)
The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

Melhor Fotografia
A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Direção de Arte
A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Figurino
O Artista

Melhor Maquiagem
A Dama de Ferro

Melhor Documentário (Longa)
Undefeated

Melhor Documentário (Curta)
Saving Face

Melhor Montagem
Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

Melhor Efeitos Visuais
A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Efeitos Sonoros
A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Edição de Som
A Invenção de Hugo Cabret

*Reportagem originalmente publicada no Jornal Correio de Uberlândia em 27 de fevereiro.


Ainda há tempo para assistir aos indicados ao Oscar*

oscar2012

Quem quiser assistir à entrega do Oscar amanhã mais informado sobre as maiores produções, basta procurar um dos 11 filmes que já estão disponíveis nas locadoras e concorrem a uma estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A maratona pode incluir desde produções mais artísticas a filmes que têm o único objetivo de entreter. Entre as primeiras está o introspectivo A Árvore da Vida, indicado a Melhor Filme, e entre as segundas os robôs gigantes de Transformers – O Lado Oculto da Lua, indicado a Melhores Efeitos Visuais.

Os fãs de Woody Allen também podem conferir no conforto de casa Meia-Noite em Paris, trabalho que deu a indicação de Melhor Diretor ao cineasta depois de 18 anos, desde que Tiros na Broadway, de 1994, foi lembrando pelo Oscar.

Para incluir a família inteira na corrida ao prêmio, procure por Rango, animação com a voz de Jhonny Depp, e Kung Fu Panda 2, ambos nomeados ao prêmio de Melhor Longa em Animação.

A curiosidade em relação a Kung Fu Panda 2 é que ele foi lançado diretamente nas locadoras do Brasil. Assim como Guerra ao Terror, de 2009, que foi exibido nos cinemas do país após vencer o Oscar de melhor filme.

Rio traz os brasileiros Carlinhos Brown e Sergio Mendes no pacote pré-Oscar, indicados pela música “Real in Rio”, séria candidata ao prêmio de Melhor Canção.

Em cartaz

Se ainda sobrar um tempo, dá para sair de casa e correr para uma sala de cinema e conferir três indicados que estão em cartaz em Uberlândia. A Invenção de Hugo Cabret, campeão de indicações deste ano com 11 nomeações, A Dama de Ferro, com Meryl Streep em sua 17ª nomeação, e Tão Forte e Tão Perto, drama sobre garoto durante o 11 de Setembro.

Indicados ao Oscar disponíveis nas locadoras

A Árvore da Vida
Meia-Noite em Paris
Guerreiro
Missão Madrinha de Casamento
Kung Fu Panda 2
Rio
Rango
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
Gigantes de Aço
Planeta dos Macacos: A Origem
Transformers – O Lado Oculto da Lua

Indicados ao Oscar em cartaz em Uberlândia

A Invenção de Hugo Cabret
A Dama de Ferro
Tão Forte e Tão Perto

*Reportagem originalmente publicada no Jornal Correio de Uberlândia, no dia 25 de fevereiro


Crítica: Imortais

imortais_cartaz_BRÉ incrível que uma produção criada para ser um blockbuster com batalhas épicas, heróis carrancudos e formato 3D se perca não na costumeira falta de roteiro, mas no acabamento cênico. Assim é Imortais (Immortals, EUA, 2011), que conta a história de Teseu, um mortal escolhido por Zeus para lutar contra Hyperion, rei em busca de uma arma que pode mudar o destino da Terra e do Olimpo.

A pobreza vista na tela é um verdadeiro conflito, já que em meio a tanta grandeza é possível encontrar elementos como espadas que parecem feitas de isopor, com cabos falsos e lâminas de plástico pintado, e até um importante arco de visual tão deslocado que parece ter saído da mão de um atleta olímpico e não de uma narrativa da Grécia antiga. Fora isso, alguns efeitos visuais não funcionam, vide o mar na encosta onde se passa boa parte da história de Teseu. Repare principalmente na “junção” entre os limites de terra onde as pessoas pisam e o fundo: a falta de “encaixe” da iluminação evidencia bem o problema.

É ainda mais gritante a falta de cuidado se ainda levarmos em conta que a direção do filme é de Tarsem Singh, o homem que criou um estilo fabuloso no clipe da música “Losing My Religion”, do R.E.M., e o elevou a enésima potência no fraco, mas visualmente bonito A Cela. Não há como negar que bom olho para composições ele tem, entretanto, nem os cenários feitos na mão dão conta do recado, a exemplo da Sala Vermelha do Tártaro, a qual está mais para Fúria de Titãs de 1981 em sua falta de recursos, do que para 300, ao qual o filme foi incansavelmente comparado.

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Aliás, se há dorsos à mostra e capas para provar que tal comparação tem razão de ser, Gladiador também foi fonte para Imortais, como prova o momento em que Teseu se encontra com  Hyperion e este o provoca relembrando como matou sua mãe, da mesma maneira que Commodus instiga Maximus no longa de 2000, ao falar sobre a morte da mulher e do filho do guerreiro.

É claro que existem bons motivos para que Imortais exista, mesmo que eles não ajudem a salvar o longa, contudo as estranhezas visuais são interessantes, seja nos Titãs presos pela boca a barras, na enorme variedade de elmos bizarros ou mesmo na beleza da batalha nos céus que encerra o longa. A montagem também foge do básico com ótimas transições, como aquela em que um elmo caído se transforma numa embarcação ou as minas de sal que se tornam mar. Também é de se elogiar a batalha entre Deuses e Titãs, na qual a câmera lenta é muito bem utilizada para evidenciar o banho de sangue e as ótimas coreografias – ainda que ver um deus ou um titã sangrando pareça estranho.

Nota: 6

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Star Wars Episódio IV em 32 movimentos

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Veja os demais 27 movimentos…

Dica de Claudia Salgado


Resumo (6 a 12 fev)

melancholia-movie-posterMelancolia* (Melancholia, 2011). De Lars Von Trier

Irmão temático de A Árvore da Vida, o filme mais recente de Lars Von Trier também fala sobre a posição do Homem em relação ao Universo por meio de uma família, mas pode-se dizer que um pouco mais humano. Basicamente há três segmentos na narrativa: a introdução, com belíssimas imagens em câmera superlenta, bem ao estilo de Anticristo e muito parecidas com quadros pintados – inclusive com a imagem da noiva Kirsten Dunst saída de Ophelia, de Sir John Everett Millais -, e as histórias das irmãs Justine (Kirsten) e Claire (Charlotte Gainsbourg). É por meio delas e do planeta que dá nome ao filme (e que está em rota de colisão com a Terra) que Trier fala sobre a imbecilidade do Homem frente a algo que ele não tem ideia da dimensão, o Universo, e se preocupa demais com rituais, se esquecendo também do próprio Homem. A recepção do casamento de Justine, cheia de pompa e nenhum sentido, mina as forças do público na primeira hora de Melancolia e, ao que parece, só ela e a mãe parecem perceber o quanto tudo aquilo é vazio. Em seguida vem Claire, que é uma das responsáveis por organizar aquele tipo de evento e que mesmo no fim do mundo oferece à irmã uma taça de vinho como forma de “receber” o tal planeta. Apesar de não demonstrar fé na humanidade, o diretor consegue reservar para o final um momento sutilmente humanista com três personagens de mãos dadas, incluindo uma criança, peça crucial dessa ponta de esperança nas pessoas. Apesar de todo o mal-estar que o filme causa ser proposital, o ritmo arrastado é seu maior defeito, principalmente se levarmos em conta os mais de 130 minutos da produção. Nota: 8,5

*Filme assistido pela primeira vez


Há alguns anos…

A criança por trás da atriz

professional_oldman_portmanGary Oldman e Natalie Portman nos bastidores de O Profissional (1994)

 


Críticos…

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Crítico


Resumo (30 jan a 5 fev)

tropa-de-elite-poster02Tropa de Elite (Idem, 2007). De José Padilha

Indo além do sucesso retumbante que foi e tendo poucos, mas bons anos de distanciamento, é possível perceber melhor que Tropa de Elite é uma pancada não no crime em si, mas nas pataquadas cometidas “dentro da Lei”, mais especificamente na Polícia Militar carioca. Além de ser mostrada como incompetente e corrupta, a corporação faz surgir um tipo de salvador da pátria torto, mas capaz de levar à histeria quem não compactua com toda a sujeira e o nome dele é um dos mais populares do Cinema nacional, Capitão Nascimento. É interessante perceber que ao se apresentar na narração em off ele não diz o primeiro nome, Roberto, mas sim a patente, Capitão. O longa é violento grafica e tematicamente, se tornando, por vezes, um tanto caricato com o objetivo causar a ojeriza necessária para aprovar os métodos de Nascimento, o qual foi considerado fascista por alguns. Para a maioria, porém, ele trouxe a catarse em relação ao crime que é endêmico no Brasil: tortura e truculência contra o tráfico e o “sistema”. Sem se esquecer do roteiro inteligentemente construído para que um personagem nada heroico seja relevado: a introdução de elementos como o filho que vem por aí e o stress que o assola fazem o público jogar a favor do protagonista. Quem viu o segundo, sabe o quanto ele foi abrandado – sem deixar de ser excelente. Nota: 9

Diary_rodrick_rules_posterDiário de um Banana 2 – Rodrick é o Cara* (Diary of a Wimpy Kid: Rodrick Rules, 2011). De David Bowers

Mais bem resolvido em relação à linha narrativa se comparado ao original, visto que se trata de adaptação de um livro altamente episódico, essa continuação ainda está longe de ser perfeita, visto que algumas passagens só fazem sentido se você leu o livro – a exemplo da apressada sequência sobre o banheiro de uma piscina e Greg coberto de papel higiênico. E um filme, você sabe, deve ser uma obra que vale por si. Um pouco mais ingênuo, Banana 2 mostra bem isso na abertura criada para o filme, cheia de humor pastelão ao invés das tiradas ácidas e juvenis do autor Jeff Kiney. De qualquer maneira, é uma produção divertida e regular na proposta de ser um passatempo sem pretensões elevadas e que ainda se preocupa em ser Cinema e não teatro filmado, vide a cena em que Rodrick chama os amigos para uma festa na sua casa e o quadro vai sendo aberto de acordo com que pipocam janelas com a imagem das pessoas repassando a notícia. Fora que Zachary Gordon, o Banana, está bem mais seguro dessa vez. Nota: 7

*Filme assistido pela primeira vez


Crítica: Os Descendentes

cartazes-descendants_01A certa altura do amargurado Os Descendentes (The Descendants, EUA, 2011), o patriarca Matt King, vivido por George Clooney, diz que a família dele é como um arquipélago, com entes vivendo separados como ilhas. A trama, sem querer estragar o desfecho, é sobre um tipo de pangeia se formando.

Flagrando um momento crítico para a família King, a narrativa gira em torno da coma de Elizabeth King, a mãe que sofreu um acidente quase fatal e se tornou o centro das atenções do clã, se transformando também no catalisador dos choques das pessoas ao seu redor. E eles não são poucos: a filha mais nova, Scottie (Amara Miller), anda incontrolável e agressiva, a mais velha, Alex (Shailene Woodley), bebe e está distante física a sentimentalmente dos pais e o chefe da família não sabe se remenda as coisas em casa ou se resolve a venda de uma importante área virgem que pertence a ele, aos irmãos e aos primos.

É desse cenário nada bonito que Alexander Payne tira mais um longa agridoce, como já havia feito com Sideways – Entre Umas e Outras e As Confissões de Schmidt, mas de maneira um pouco mais emocional, pode-se dizer. Não que as marcas registradas não estejam lá, afinal, é possível rir e se sentir incomodado com as situações que ele cria, assim como já aconteceu com Paul Giamatti e seu vinho raríssimo, bebido com um hambúrguer barato, ou com Jack Nicholson e a compra de congelados depois da perda da mulher. O ótimo ator da vez é Clooney, que protagoniza uma das corridas mais tragicômicas que o Cinema já viu, após saber que sua mulher não era exatamente uma vítima imaculada. Quando ele sai em disparada, com suas roupas tipicamente havaianas e com passos estranhos, você não sabe se ri ou chora daquilo tudo.

Aliás, Payne desenvolve belas cenas para boa parte do elenco, que brilha, junto com sua direção – que adora closes. Sempre tendo a notícia mais trágica de todas como ponto de partida, as jovens Shailene e Amara choram e emocionam. A primeira, submersa numa piscina, como num rio de lágrimas, e a segunda sendo a criança que é, fazendo cara de choro e procurando apoio com lágrimas nos olhos deixando a revolta pré-adolescente de lado.

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Aliás, é neste momento que a montagem minimalista de Kevin Tent mostra que pode fazer muito pela produção. Para mostrar o pranto de Scottie, há um corte no exato momento em que ela recebe o comunicado, trocando a posição da câmera para que a atriz mirim saia da cara de tristeza para as lágrimas, o que chega a ajudar no resultado final da atuação. Fora que colocar a única cena em que se vê Elizabeth/Liz saudável com vento no rosto em alto mar para abrir o filme e, em seguida, impactar a plateia com a mulher já debilitada ao máximo no hospital, é uma boa estratégia do diretor.

Já não tão feliz é adoção da narração em off. Se de um lado Os Descendentes é aberto com um excelente discurso de Clooney sobre o que as pessoas acham de morar no Havaí (“Paraíso? Paraíso que se foda”), do outro lado essa mesma narração conflita com imagens que dizem muito mais por si, a exemplo da escada que King/Clooney enfrenta para chegar até o consultório do médico responsável pelo tratamento de Liz. Sozinho, o enquadramento em plongée mostrando ator subindo os vários lances consegue passar a dificuldade da situação pela qual passa o personagem, porém a narração interfere no momento, dando informações nem sempre necessárias e ainda tira a atenção da plateia daquele ótimo momento.

Da mesma forma que a falta de energia que circunda os personagens – salvo alguns poucos momentos já citados –, não “atinge a veia” do espectador como poderia. Talvez seja uma tática para aflorar certa estranheza relativa à gravidade da situação – a qual poderia trazer reações muito mais passionais. De qualquer maneira, Os Descendentes trata afetivamente os conflitos dos King e ainda reserva uma imagem extremamente terna para fechar o ciclo pelo qual eles passam.

Nota: 8,5

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Resumo (16 a 29 jan)

ilha do medoIlha do Medo (Shutter Island, 2010). De Martin Scorsese

Esse é tipo de filme que não te pega pelo susto ou por imagens medonhas, mas pela estranheza e elegância da direção de Martin Scorsese. É meio contraditório dizer isso, mas o cineasta tem planos com imagens muito belas, mas que não deixam de criar um clima pesado e atmosfera carregada, a exemplo de toda a abertura cheia de névoa e da trilha que evoca os acordes medonhos da música de O Iluminado. Lembra Desafio do Além em certos momentos, nessa combinação de imagens sombrias, mas muito bonitas, chegando ao ápice da congruência entre as produções no movimento de câmera que acompanha uma escada em espiral enquanto um personagem sobe por ela. No restante, Ilha do Medo tem na manga o clima de paranoia sobressaltado por personagens estranhos, informações desencontradas e um recurso muito interessante de Scorsese: repare como em vários momentos as cenas não seguem a continuidade, seja em objetos que parecem estar em lugares diferentes a cada corte ou em um copo d’água que quando levado à boca por uma interna some da mão dela e volta para a mesa vazio. Contando a história da investigação de uma paciente desaparecida de um sanatório, o longa ainda tem um final-surpresa sem grandes alardes, mas extremamente satisfatório, principalmente por ter um desfecho amarrado e que em meio a toda a loucura não deixa brechas para uma segunda interpretação, rendendo ainda mais drama a um enredo já triste. Nota: 9

pulse posterPulse* (Idem, 2006). De Jim Sonzero

Enquanto uns têm o cuidado de criar toda uma atmosfera, outros parecem não saber do que se trata. Pulse até tenta explorar algo diferente de outros filmes, buscando um meio de colocar a internet e a tecnologia a serviço de um filme de terror, contudo é tão raso e tão atrapalhado na execução que se torna constrangedor. Há algo que foi liberado de alguma maneira do mundo virtual e anda fazendo as pessoas se suicidarem. Começa com um jovem hacker, que manda a mensagem de alerta do além, e se espalha rápido – só que ninguém mais, durante o filme, tem a decência de mandar mais mensagens do plano espiritual… Ou seria virtual? Enfim, para o roteiro de (inacreditável!) Wes Craven e Ray Wright isso pouco importa, pois a trama tem que andar e as criaturas nada sutis tem que fazer mais vítimas. O problema é que de uma hora pra outra, enquanto a bonitinha Kristen Bell tenta desvendar toda aquela pataquada, o mundo entra em colapso e o que pode ajudar as pessoas é apenas um tipo de fita adesiva vermelha. E tome cenas apocalípticas, com a cidade esvaziada, com o detalhe de que em momento algum o filme sinalizou que aquilo vinha acontecendo com tamanha proporção. Fora que a direção de Jim Sonzero é óbvia, vide as cenas iniciais “mão peasada”, que revelam a face do “vilão” logo de cara e chutam para as profundas qualquer tipo de suspense. E, convenhamos, ter uma narração em off “séria” no final (“O mundo que conhecemos se foi”), como se alguém se importasse com tudo aquilo, só reforça a falta de rumo do projeto. Refilmagem do japonês Kairo. Nota: 3

The-secret-gardenO Jardim Secreto (The Secret Garden, 1993). De Agnieszka Holland

De início, a delicadeza da diretora Agnieszka Holland e a simplicidade da história de uma garotinha mimada e seu jardim secreto parecem ser o melhor do longa, contudo, é numa segunda vista que você pode perceber o trabalho genial do diretor de fotografia Roger Deakins. Ele trabalha o lúgubre e o iluminado em contraste no início do filme e, aos poucos, vai deixando que a luz tome os ambientes e os quadros do filme. Veja o exemplo do quarto do jovem Colin Craven, cuja fonte de claridade são velas, mas que com a amizade com Mary Lennox, em determinado momento vai receber a luz vinda do sol. Até mesmo o jardim do título se mostra, gradativamente, menos enevoado e ganha muitas cores. O que só fortalece o olhar sensível de Agnieszka, vide o arvorecer das plantas e as brincadeiras dos garotos no local, mas que também valoriza a boa atuação do trio de protagonistas, Kate Maberly, Andrew Knott e Heydon Prowse, que passam por mudanças perceptíveis na postura e na personalidade, principalmente Kate e Heydon, deixando com que Knott se mostre sempre mais maduro. Nota: 8,5

*Filme assistido pela primeira vez